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O novo ‘esquema’ das farmácias: é isso que fazem quando você da o seu CPF em troca de desconto

10 de setembro de 2024
Revista Sociedade Militar

As farmácias do Brasil têm um novo modelo de negócios bilionário que utiliza os dados pessoais dos consumidores para gerar lucros por meio de publicidade direcionada. Esse processo começa com a pergunta mais comum nos caixas das farmácias: “Qual é o seu CPF?”. De acordo com reportagem da jornalista Amanda Rossi, publicada pelo portal UOL, essas informações são coletadas e utilizadas para vender anúncios de forma segmentada, por meio da RD Ads, uma empresa do grupo RaiaDrogasil.

Ao dar seu CPF em troca de descontos que podem ultrapassar 70%, o consumidor alimenta um vasto banco de dados que contém detalhes sobre seu histórico de saúde, como doenças, medicamentos usados e métodos contraceptivos. A RaiaDrogasil, maior rede de farmácias do Brasil, armazena essas informações de 48 milhões de clientes e as utiliza para direcionar anúncios com precisão, seja no site da farmácia ou em redes sociais como YouTube e Facebook.

O CEO da RD Ads, Vitor Bertoncini, admitiu em um podcast voltado para investidores que pedir o número do CPF no Brasil é algo tão natural que 97% dos clientes o fornecem sem hesitar, o que não aconteceria em outros países. Ele comparou a prática ao uso do social security number nos Estados Unidos, onde pedir essa informação para fins comerciais seria motivo de intervenção policial.

Apesar dos descontos oferecidos, os valores sem CPF podem ser fictícios. Em um exemplo citado pela reportagem, uma caixa de nimesulida custava R$ 31,78 sem o CPF, mas o preço despencava para R$ 8,50 com o documento. No entanto, órgãos públicos e hospitais privados pagam valores significativamente menores pelo mesmo medicamento, sugerindo que o preço cheio seja inflacionado para incentivar a entrega dos dados pessoais.

Esses dados coletados não se limitam a medicamentos. O banco de dados da RD Ads permite até 20 tipos de filtros, categorizando os clientes como “sênior debilitado” ou “sênior ativo”, por exemplo, e utilizando essas informações para campanhas publicitárias direcionadas. Um caso mencionado na reportagem destacou o uso de dados de pais com filhos pequenos para aumentar as vendas de produtos de bebês em 20%.

A prática de usar informações de saúde para direcionar anúncios, no entanto, ainda gera controvérsia. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) classifica informações de saúde como dados sensíveis, exigindo maior proteção e podendo vedar seu uso para fins econômicos. Embora a RaiaDrogasil afirme que os dados são anonimizados, há questionamentos sobre se a anonimização é suficiente para garantir que a lei não seja violada.

A reportagem também destaca que o uso de biometria em farmácias foi motivo de protesto público. Em 2021, a jornalista relatou que foi solicitada a fornecer sua digital para receber um desconto em seu medicamento, o que gerou indignação e ação do Procon e do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). A exigência de biometria caiu, mas o pedido do CPF continua.

Ainda não há uma regulação clara que proíba ou restrinja o uso de dados de saúde para fins publicitários no Brasil. Enquanto isso, milhões de brasileiros continuam a fornecer suas informações pessoais em troca de descontos sem saber que esses dados podem estar sendo utilizados para muito mais do que apenas melhorar o preço dos remédios.

Como ver os dados que as farmacias guardam sobre mim?

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garante que todos os cidadãos brasileiros têm o direito de saber quais informações pessoais estão sendo mantidas por empresas, como as farmácias. Esse direito permite que você tenha acesso ao seu histórico de compras, dados de saúde e saiba com quais outras empresas ou órgãos públicos seus dados foram compartilhados. Além disso, é possível solicitar a correção de informações incorretas ou até mesmo pedir que seus dados sejam apagados.

Para exercer esse direito, as farmácias são obrigadas a disponibilizar um canal específico para que esses pedidos sejam feitos. O prazo para resposta é de até 15 dias. Caso a empresa não cumpra com esse prazo ou negue o atendimento à solicitação, você pode acionar a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), que é o órgão responsável por fiscalizar e aplicar sanções com base na LGPD.

Se você deseja solicitar seus dados ou pedir que eles sejam apagados, entre em contato com o SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) da farmácia ou consulte o site da empresa, onde normalmente disponibilizam a opção de enviar a solicitação. Certifique-se de detalhar que está exercendo seus direitos previstos na LGPD, pedindo acesso ou a exclusão das informações que eles possuem sobre você.

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